quinta-feira, 30 de outubro de 2014

COMO FOI A HISTÓRIA DO MÁ CARA / DENEB

 MÁ CARA / DENEB 
Com os seus 100 anos, a história é longa! DENEB irá ter novos donos, mas tenho a obrigação de transmitir para os nossos vindouros, o que sei o que me contaram, sobre este lindo barco.
Caíque Junto ao Cais
Bandeira do Caíque Sta. Rita, com iniciais Trindade de Sousa
 Nos finais do século XIX e princípios do século XX, São Martinho do Porto era o único porto marítimo entre Peniche e Figueira da Foz, o transporte de mercadorias do Algarve para a zona centro do país era essencialmente feito por caíques, entre Olhão e S. Martinho, os barcos vinham carregados de sal, e frutos secos, “Figo Seco”, e levavam de regresso madeira do pinhal de Leiria e frutas da região.
Por volta de 1907, nas tripulações destes barcos havia um tripulante
Má Cara
1933 o Tenente António Ferreira Trindade de Sousa

do caíque Santa Rita, cujo Armador Olhanense, António Trindade de Sousa, avô de António Carlos Mendes de Oliveira Trindade de Sousa.
 Com a inauguração da linha do Oeste, os caíques começaram a ficar para segundo plano, dos primeiros a deixar de fazer esta viagem entre os dois portos foi o Santa Rita.
O armador apaixonou-se pela terra, e por uma jovem menina natural de S. martinho do Porto, D. Elisa Ferreira, Má cara, já falava em não voltar para Olhão, dado que S. Martinho oferecia melhores condições para o futuro, seguiu o exemplo do seu armador, e em simultâneo decidiram mudar armas e bagagem para S. Martinho.
 Quando começou a residir em S. Martinho, apresentou-se com o nome de Má Cara, provavelmente apelido de família que existe na região de Olhão,  no entanto como tinha um ar de poucos amigos, pouco falador, comentava-se que era um nome bem dado. Trabalhou ou tinha, um negócio de venda de sal e frutos vindos do Algarve, na rua R. Marquês de Pombal, sendo a sua ultima residência na Rua da Liberdade Nº 4.
DENEB Trindade de Sousa e sua namorada
 Na altura em S. Martinho do Porto, já havia os nossos BOTES, barcos para a pesca de lagosta, eram barcos oriundos do Seixal e semelhantes aos barcos que havia no rio Tejo, os CATRAIOS.
DENEB 1933
Com o desenvolvimento dos barcos a vapor, estes barcos à vela começaram a ficar desatualizados para o trabalho, e começaram na região de Lisboa a serem utilizados para fins lúdicos.
Como S. Martinho do Porto, na altura era frequentada, pela nobreza que o Rei D. Carlos, tinha arrastado consigo, e também por agricultores abastados do Ribatejo e Alentejo, com naturalidade os botes começaram a ser construídos, em estaleiros da nossa terra.
O tal MÁ CARA, homem habituado ao mar e barcos, mandou construir ao carpinteiro naval sr. Roque, que tinha o seu estaleiro no cais, um barco que pudesse competir com os demais.
DENEB com vela latina 1933

Trindade de Sousa Com o Seu Fato de Homem da Marinha
Com as suas linhas elegantes, e de tabuado de 13mm, aliado à experiencia do seu dono, fizeram-no o barco mais rápido de S. Martinho do Porto. No verão, competia com os pescadores e banhistas, onde geralmente ganhava, mas, nas regatas em que entrava perdia sempre, os banhistas não gostavam de perder, conseguiam sempre de haver maneira de o desclassificar, (em conversa de café e de brincadeira diziam, que ele ligava o motor, em frente aos faróis).
DENEB 
Arreliado com tudo isto, em 1933 Má Cara vendeu-o ao filho do seu antigo armador, seu conterrâneo tenente António Ferreira Trindade de Sousa, ao qual deu o nome de DENEB.
 Porquê DENEB?
DENEB é uma estrela da constelação Cisne, a 19ª mais  brilhante vista da terra, e fica a 2000 anos-luz, como era um homem muito católico, acreditou que a luz que brilhou, a quando do nascimento do Jesus Cristo, quando chegou à terra, coincidiu com o lançamento deste barco à água.
Durante o tempo que este jovem tenente, navegou por S. Martinho, a manutenção deste barco era feita pelo grande mestre e carpinteiro Manuel Surdo.
Por morte do então comodoro António Ferreira Trindade de Sousa seu filho foi o herdeiro legítimo, navegou com ele só com a sua armação de carangueja e estais, a vela latina nunca a usou e nunca entrou em regatas.
DENEB a Caminho de Salir
Um dia DENEB sofreu um abalroamento, foi danificado na linha de água por uma prancha, que lhe fez um rombo, durante a noite meteu água, e como havia mau tempo foi dar aos faróis.
DENEB com Armação Carangueja 1933
Ficou bastante mal tratado, como Jorge Roque era o homem que fazia a manutenção do barco, e fonte desta informação, que por sua vez era o filho do carpinteiro Roque, que seguiu as peugadas de seu pai, e como não tinha condições para este trabalho, foi levado para reparação na Nazaré, no carpinteiro naval sr. Alberto, dali foi para a Cardarroeira (Casal Pardo) para um armazém.
Como o barco do Má Cara era uma lenda, um mito em S. Martinho do Porto, o Dr, Pedro António do Vadre Castellino e Alvim, procurou-o com entusiasmo por todo o lado, até que acreditou que o barco que encontrou na Cardarroeira (Casal Pardo) num armazém, era o Má Cara, mas sem certezas algumas.
Depois de medidas rigorosas,
Pedro Alvim com o Mestre António na Nazaré
o carpinteiro naval sr. António da Nazaré, construiu uma réplica fiel, daquele barco a que foi dado o nome de São Domingos. Mais tarde, DENEB veio para uma cocheira em Alfeizerão. Nos anos seguintes não foi à água, e o tempo passou sem voltar ao mar.
DENEB na Cocheira em Alfeizerão 2012
Neste período em que o barco estava sem vir à praia, tentei compra-lo, mas o meu amigo António Carlos Mendes Oliveira Trindade de Sousa, tinha grande amor por ele, e não cedeu ao meu pedido.
Uns 30 anos passaram mas uma doença das que limita tudo, obrigou-o a desfazer-se dele.
DENEB à Espera de Nova Cara
Como via o barco a degradar-se dia a dia, só restavam duas saídas, ou destrui-lo ou oferece-lo, mas como amava demais aquele barco, tinha muito boas recordações, e sabia quanto seu pai gostava dele, e como seus filhos não estavam muito sensibilizados para os barcos e não mostravam interesse, fez uma reunião de família, e decidiram oferecer-mo, porque acreditavam que eu iria dar-lhe as glórias do passado e a juventude no futuro.
Painel de Popa Novo, Balizas reforçadas


Em Julho de 2012, fui busca-lo à dita cocheira, de imediato comecei a tratar dele, começando por lhe dar uma “Nova Cara”, retirando toda a tinta velha por fora, e dei aparelho.
Um dia o São Domingos abicou à praia eu estava lá! Fui falar com o Pedro Maria Alvim, e pedi-lhe se me deixava dar uma volta porque estava a recuperar o Má Cara e não percebia nada de botes ou vela. O Pedro M.A. não queria acreditar, no que ouvia! Como tinha agora aparecido o barco passados estes anos todos?
DENEB Com as Suas Balizas e Obras Mortas em Mau Estado
Esta conversa passou há noite em conversa de café,  e nos dias seguintes foi um corrupio de amigos dos botes a verem o Má Cara.
Depois desta coincidência é que Pedro António do Vadre Castellino e Alvim acreditou fielmente, que na verdade o barco que encontrou no Casal Pardo era o Má Cara.
Em Janeiro 2013, levei-o para uma serração em Alfeizerão do meu amigo António Maia, a quem muito agradeço da sua disponibilidade e liberdade que me deu, por poder utilizar toda a estrutura que dispunha.
Passados 45 dias de trabalho intenso, com 14 horas por dia, e com temperaturas muito baixas, o barco ficou concluído de carpintaria.


DENEB Já a Caminho de Recuperado



Tenho também por obrigação, agradecer ao meu amigo Aleixo Coimbra, e António Carlos Mendes Oliveira Trindade de Sousa, todo o apoio que me deram, sem as suas ajudas, o trabalho teria sido mais complicado e de difícil resolução.
O restauro foi rigoroso, o barco vinha completo, com as duas armações,(latina e carangueja), também por visualização de fotos,  e com o apoio do livro, Nuestra Vela Latina.
BENEB foi para a água em S. Martinho no dia 6 de Julho 2013, tive o prazer da companhia de minha mulher Maria Luísa G.A. Louro da Costa, de meu genro Fernando Faria e de Pedro Maria Alvim, grande velejador e conhecedor destes barcos, onde afirmou que o barco estava uma maravilha, com o seu centro velico perfeito, oferecia uma navegação excelente.
Pintado Onde Realça a sua Elegancia
Para comemorar o regresso deste barco à nossa Baía, a bordo brindamos com uma garrafa de champanhe Moet&Chandon, e desejamos-lhe, vida longa e muitas vitórias.
A Sua Proa com Muita Elegância e Beleza
O nosso bride foi ouvido e na primeira regata que entrou, “chegou viu e venceu”, palavras da direção do C.N.S.M.P.
Maria Luísa na  Primeira Viagem Após Restauro
Pedro Alvim, José Louro e Fernando Faria
O Seu Primeiro Bordo a Caminho de Salir
Curiosamente a tradição deste barco do tempo do Má Cara, manteve-se, o júri não acreditou que depois de sair –mos tão atrasados, tivesse –mos tido tempo de recuperar, e foi desclassificado, mas aceitou a nosso protesto e foi-nos atribuído o primeiro lugar, a tripulação era composta por José louro da Costa, José Dornelas, Luís Lamas e Francisco Espada.
Entrega da Bandeira Registo na Marinha Tejo

DENEB em Frente ao Cais das Colunas

Livrete da Inscrição na Marinha Tejo
Em 2014 DENEB veio para o Tejo, e na Marina de Vila Franca de Xira, apresentou-se para uma verificação de técnicos do Museu da Marinha e Marinha Tejo.
E, de acordo com o regulamento publicado em Diário da República http://projetoraposinho.blogspot.pt/p/marinha-do-tejo_10.html,
Em Frente ao Cais do Sodré com vento Rijo

 teve o direito de ir ao cais das colunas no Terreiro do Paço em Lisboa, para poder receber a sua bandeira da Marinha Tejo. 
A Reboque do Varino para Lisboa


A viagem entre Vila Franca e Lisboa foi composta por, José louro, Luís Lamas e Aleixo Coimbra.
1º Lugar em regata e Barcos Embandeirados na Moita
Em Lisboa, foi-lhe dado um livrete emitido pela Marinha Tejo, onde está registado como sendo o 13º barco mais antigo, com registo de 1933, com a categoria de Catraio e 80% de conformidade.
Projetos para o futuro continuar a estar presente anualmente em:
- Na segunda-feira de Pascoa em Constância
De Barrete nas Festas da Moita Para Homenagear os Valentes Arrais Destas Embarcações
- Junho no dia da Marinha Tejo.
- Nas festas do colete encarnado em Vila franca de Xira.
- Na regata das festas do Seixal.
 - Nos meses de Julho e Agosto em S. Martinho do Porto
.- Setembro na regata das festas da Senhora da Boa Viagem na Moita.
- Na Real Regata do 5 de Outubro em Lisboa.
- E num futuro próximo, sem data marcada descer o rio Douro entre Barca de Alva e o Porto, Em Olhão no Algarve, e em Espanha Vigo nas Rias Bajas 

Agradeço todo o apoio e informação dada por:
D. Maria Emília Jorge Faustino
Dr. Pedro António do Vadre Castellino e Alvim
António Carlos Mendes Oliveira Trindade de Sousa

Obrigado a todos
S. Martinho do Porto 28 de Outubro de 2014


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